sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A dança

Todo mundo ria quando ele dizia onde estava indo e, para ele, era como se estivessem zombando de seus sonhos. Seu pai dizia que isso era coisa de maricas. Sua mãe o entendia, demosntrava isso no olhar, mas não dizia nada.

Os vizinhos apontavam em sua direção e quando passava nas ruas ele via que alguns o seguiam, imitando seus passos.

Por isso, ele passou a não mais dizer onde ia. Sua vida passou a ser algo tão particular que ele não pretendia dividir com mais ninguém. Quando ia aos ensaios, sentia-se vivo plenamente. Era ali que ele se realizava, bailando na ponta dos pés.

Mesmo continuando a seguir o caminho que considerava o mais correto, ele se entristecia por não poder dividir aquilo com ninguém.

Até que um dia conheceu Alice, e seu mundo transformou-se por completo, como se agora vivesse no país das maravilhas. Ela o apoiava no que ele fazia, ia a seus ensaios, queria dividir com ele o melhor daquela época. Em contrapartida, ele lhe oferecia todo o carinho e atenção que ela precisava. Cada um ofereceu ao outro o que tinha de melhor.

E ele lhe contou que ainda era um pequeno menino quando começou a ensaiar suas primeiras piruetas. Com seis anos já imitava com perfeição os passos de dança de sua irmã mais velha. Mas seus pais jamais iriam aceitar que seu filho resolvesse fazer ballet.

E assim, contra tudo e contra todos, ele seguiu seus sonhos. Hoje ele é um dos mais promissores bailarinos do mundo e integra o time de uma das maiores companhias de dança clássica dos Estados Unidos. O papel do príncipe Siegfried no espetáculo "O Lago dos Cisnes" está lhe rendendo inúmeros elogios.





PS: talvez alguns de vocês se perguntem o que aconteceu com Alice. Eles se separaram quando ela ficou sabendo que ele iria para o exterior, mas aquele encontro que aconteceu entre os dois determinou o rumo de suas vidas para sempre...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

As festas

Todas as festas eram assim: família reunida na beira da piscina, fumaça subindo da churrasqueira, os homens falando de política, futebol e mulheres, as mulheres na cozinha lembrando o capítulo da novela, as crianças loucas para pularem na água, as mães dizendo que tinham que esperar uma hora pois podia dar uma congestão.

Ficaram para trás a comida e a bebida. A fumaça se esvaiu e hoje a brasa nem se acende. A piscina agora está sempre vazia com alguns azulejos quebrados. Alguns adultos já não estão mais entre nós.

Ficou apenas a lembrança (boas lembranças) e algo que as pessoas costumam chamar de saudades.

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