Não me lembro exatamente a data em que o Renato chegou para mim, me estendeu uma folha de papel cheia de garranchos e perguntou:
"Carlos, o que você acha disso?"
Já naquela época eu não bebia, mas estava cansado e meio sonolento, sentado numa mesa de bar observando um monte de gente se entorpecendo. Olhei para o cara que havia conhecido assim que tinha acabado de chegar em Brasília e fiquei em silêncio por alguns segundos.
"Renato, não só é preciso amar as pessoas... o que você acha de como se não houvesse amanhã? Vai passar uma idéia de que tem que ser feito hoje, entende? E ainda poderia incluir no final, porque se você parar pra pensar, na verdade não há. Assim eu acho que terá uma rima melhor."
"Mas rimar com o quê?" - perguntou o Renato colocando a mão no queixo.
"Porra, presta atenção cara! O que você ta fazendo? Não é uma canção? Essa canção é sua ou minha?
E foi assim. Eles ainda bebiam cerveja e eu cansado de tudo aquilo, com sono, pensando no trabalho que teria que fazer no dia seguinte. No outro canto, o Renato, o Trovador Solitário, arriscou um arranjo no violão todo desafinado do cantor do bar, e deixou todo mundo arrepiado com uma música que fala sobre pais e filhos. Até hoje não sei se estavam arrepiados pela canção ou pelo frio que fazia. Acho que pelos dois.
Eu, que já estava morrendo de sono, levantei e fui embora.
Mas antes, falei para um dos bêbados que ali se encontrava:
"É, meu amigo. Certas canções que ouço me caem tão bem, me marcam tanto, que parece até que fui eu quem fiz."
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